A última noite de São João na minha rua
Tinha entre 17 a 18 anos quando as raparigas da minha rua resolvemos fazer uma festa de São João com fogueira e tudo.
Então combinámos com as nossas mães e fomos ao rosmaninho na Fundação Abreu Calado. Levámos sacas, enxadas e foices.
A meio da tarde juntamos-nos todas e lá fomos a cantarolar ao São João.
Na rua ficaram os mais velhos a preparar a fonte onde depois se fez o altar do Santinho, com vasos de flores emprestados pelas vizinhas e enfeitada com grinaldas de flores.
Quem ficou a tomar conta da fonte foi a senhora Guilhermina Pancinha mais o marido o Sr. Zé.
As raparigas da altura eram as irmãs da Bia, a Margarida e a Firmilinda, as irmãs Beleza, a Ana e a Inês e depois eu, a Emília e a Maria do Olivério.
Acho que não me esqueci de ninguém. Os rapazes eram os irmãos Beleza, o Zé Pancinha filho, o Zé Chia e o irmão Chico mas estes não foram connosco neste dia.
Quando as sacas já estavam cheias de rosmaninho, voltámos e também apanhámos alcachofras para os pedidos.
Era uso nesse tempo as meninas se namoravam, perguntarem ao santo através das alcachofras se o namoro tinha pernas para andar e se acabava em casamento.
Fazia-se assim - queimava-se a alcachofra na fogueira, depois molhava-se em azeite e punha-se no peal dos Cântaros.
No outro dia se voltasse a florir era certo o casamento. Se isso não acontecesse o namoro podia ficar por ali.
Digam o que disserem comigo deu certo - era o céu a confirmar um amor que já existia.
Do que me lembro melhor, se fechar os olhos, é o voltar ao passado, ao cheiro do rosmaninho queimado que perfumava a rua toda.
Os versos para se cantar ao São João foram feitos pela senhora Rosa da Estrela. Ela e o irmão assistiram à festa na porta de casa enquanto nós saltamos a fogueira - tantos os novos como os mais velhos.
Quando se acabou o rosmaninho, o meu pai e outros vizinhos foram buscar feixes de ramalhos para a festa continuar.
Foi a última festa de São João na minha rua, depois cada uma foi para seu lado e já não voltou acontecer de novo.
Quando volto a terra e a minha rua, sinto sempre saudades destas pequenas coisas que por ali se viveram e que nos fizeram felizes, outros tempos de união.
Sejam felizes.